Fica feliz que nasceste. Fica feliz que experimentaste tudo que se traduziu em tua vida. Tudo. Mesmo as coisas de que te arrependes. Dá a todo o drama e a toda comédia o mesmo peso. Tudo parece acontecer e parece acontecer a ti e ao teu redor.

Até mesmo história sobre a qual leste, levaste a sério. Tua vida e tuas percepções dela são estórias, querido, e não achas que são boas? Quem poderia imaginar os vaivéns do enredo, os personagens que encontrarias, como os receberias e o que farias de cada ocasião?

Tentaste levar tua estória para o futuro e foste incapaz de finalizá-la. Tua estória se cria sozinha. Podes considerar determinados finais, mas não podes conhecê-los. Há muitos fatores desconhecidos para ti. Provavelmente sequer conheces a ti mesmo ainda. Claro, na vida, estás explorando o teu próprio ser. Caminhas nas ruas do teu próprio ser. Dobras as esquinas do teu próprio ser. Lês as placas do teu próprio ser. E encontras o teu próprio ser em cada pessoa que encontras. Querido, tu desempenhas todos os papéis nesta estória que escreves e na peça em que atuas.

Não importa o que tenhas pensado, tua estória tem sido esplêndida. Ela tem sido um esplêndido desdobramento do teu ser. Preferiste alguns capítulos a outros, mas mesmo assim cada capítulo contribuiu para a totalidade da magnífica estória. Foste temperado na vida e agora estás emergindo como herói na estória de tua própria vida.

Poderia a estória ser de outra maneira? Poderias ter tomado outras decisões que tivessem afetado todo o curso de tua vida? Tavez sim, talvez não. Talvez com perambulações diferentes, houvesses acabado no mesmo prado onde estás agora. Não importa o prado em que te encontras agora, podes virar para todas as direções, norte, leste, sul, oeste, e todas as combinações destes. Cada um te dá uma vista diferente. O quê mudou, querido senão o ponto de onde olhas e o que buscas? Buscas o nascente no leste e o poente no oeste. O que mudou, querido, senão o que observas em um determinado momento?

Em que página de tua estória estás? Talvez continues folheando páginas anteriores. Talvez sigas determinados fios. Talvez pules adiante, apenas para encontrar páginas que ainda não foram escritas.

Não sabes quantas páginas tua estória terá. Não tens a última palavra. Agora, tenho que te dizer o que escrever na página em que tua estória está:

“Minha estória tem sido maravilhosa. Eu a tenho seguido com grande interesse. Derramei tinta e risquei determinadas cenas, ainda assim, fui um participante ativo da minha vida. Até mesmo quando fugi, esbarrei em mim mesmo e a estória da minha vida continuou. Entendo agora que minha estória foi uma moda passageira. Apesar do que quer que tenha pensado, à medida em que escrevo estas palavras desta novela em particular, estou consciente de que minha vida é um panorama esplêndido. Sei que minha vida teve muitas pessoas interessantes e eu sou uma delas. Sei que amei mais do que imaginava e que fui mais amado do que imaginava, e sei que só o amor me acompanha agora que caminho para o poente. Quando viro o que imaginava ser a última página, encontro que não há última página. Minha caneta está em posição e começo a escrever uma continuação esplêndida e a entitulo Inocência Recuperada.”